O projeto “Hora do Conto: Meninos e Meninas lendo o mundo e a palavra”
pode ser classificado como extensão e pesquisa. Além das histórias, dinâmicas e
textos, optamos pelo “diálogo-problematizador”, uma forma de oportunizar a
todos e todas para que digam a “sua palavra”, desenvolvam a sua leitura de
mundo, baseados(as) no contexto sócio-histórico, nas suas vivências, nos
diferentes processos de escolarização, sempre a partir do lugar, circunstâncias
e vozes que os contextualizam e lhes podem dar sentido.
4.1. Sujeitos e Contextos...
A primeira Instituição a receber o nosso Projeto, em 2010, foi o Lar das
Vovozinhas; instituição filantrópica que abriga aproximadamente 200 senhoras,
em estado de vulnerabilidade e debilitação física e mental, muitas vezes
sucedido pelo abandono familiar. Para desenvolvermos este projeto, inicialmente
convidamos os alunos da escola Antônio Alves Ramos (Patronato); levamos os
alunos e seus familiares, interessados em para conhecer a realidade do lar,
para uma primeira visita.
No primeiro encontro no Lar, contamos com
a participação 20 senhoras, porém, no decorrer do Projeto percebeu-se a
dificuldade de locomoção das mesmas e a desmotivação para participarem de
atividades lúdicas, uma vez que diziam “estar
esperando pela morte”. Necessário se fez, então, repensar nossa proposta; e
constatamos de que precisaríamos primeiramente estabelecer relações afetivas,
razão pela qual passamos a ir semanalmente ao lar, apenas para ouví-las (ou,
então, apenas abraçá-las e dar-lhe atenção e carinho). Na medida em que os
encontros foram acontecendo percebemos que éramos recebidas com muita espera. A
partir deste momento começamos a construir espaços para contar e ouvir
histórias, tanto infantis quanto de vidas.
A segunda instituição na qual
desenvolvemos o nosso projeto foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental João
Hundertmarck, localizada na zona rural de Santa Maria. Começamos a desenvolver
o projeto nesta escola e, para nossa surpresa, a maioria de seus educandos são
oriundos da zona urbana de Santa Maria. Para iniciarmos o trabalho, optamos em
ouvi-los, conhecendo suas identidades, suas auto-imagens, a partir de uma
dinâmica com os seus nomes. As dinâmicas por si só não garantem a participação
efetiva das pessoas, mas o ambiente construído de cooperação, de diálogos, de
escuta e, principalmente, de amorosidade é que permite aos seres humanos
sentirem-se autônomos e com autoria, sujeitos desse momento, levando-os a
contarem suas histórias e fazerem a relação texto-contexto. Para isso é preciso
nos exercitarmos para aprender a ouvir, a criar, a trabalharmos cooperativamente,
criando ambientes de amorosidade, de escuta e de respeito; a capacidade
participativa que cada ser humano por natureza possui precisa ser
(re)aprendida, e assim não negarmos a
legitimidade do outro. Dentro deste contexto, oportunizamos a cada um ver o mundo,
a ler o mundo, a descobrir e redescobrir o mundo e as maneiras (sua e dos
outros) de ser gente nesse mundo.
Desde o início do Projeto, idealizamos
práticas a partir das histórias infantis que poderiam ser desenvolvidas em
todas as três instituições. No entanto, na terceira instituição em que esse
Projeto foi desenvolvido, o Recanto da Esperança, foi um pouco diferente. Nos
deparamos com a realidade de jovens e adolescentes, em situação de risco;
jovens e meninos que lá estão encaminhados pelo Conselho Tutelar. Ao iniciarmos
o Projeto neste local oencontramos meninos excluídos da sociedade,
desacreditando da possibilidade de aproximação para ajudá-los, pois diziam que “as pessoas que iriam até lá, o faziam
somente para julgá-los”. Percebemos uma insegurança ao mentirem sobre suas
identidades e suas histórias, e também porque em alguns momentos usavam uma
linguagem própria do grupo para que não fossemos entendidos. Percebemos, com
isto, que o trabalho a ser desenvolvido naquele ambiente exigiria um pouco mais
de nós, no sentido de mais pesquisas, reflexões com o grupo, bem como a busca
de novos recursos que pudessem despertar/instigar o interesse daqueles menores
adolescentes. Dessa maneira, entendemos estar desenvolvendo um projeto que
“[...] além da participação, supõe uma forma de ação planejada de caráter
social, educacional, [...] Trata-se de facilitar a busca de soluções aos
problemas reais para os quais os procedimentos convencionais têm pouco
contribuído” (THIOLLENT, 2002, p. 08).
Através da palavra é possível o ser humano se expressar,
expressar seu mundo interior para se comunicar com o mundo exterior; assim, a
leitura é uma via para formação da consciência e de uma outra “visão e leitura
de mundo”, como dizia Paulo Freire.
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