sábado, 2 de junho de 2012

4. DESENVOLVIMENTO


O projeto “Hora do Conto: Meninos e Meninas lendo o mundo e a palavra” pode ser classificado como extensão e pesquisa. Além das histórias, dinâmicas e textos, optamos pelo “diálogo-problematizador”, uma forma de oportunizar a todos e todas para que digam a “sua palavra”, desenvolvam a sua leitura de mundo, baseados(as) no contexto sócio-histórico, nas suas vivências, nos diferentes processos de escolarização, sempre a partir do lugar, circunstâncias e vozes que os contextualizam e lhes podem dar sentido.

4.1. Sujeitos e Contextos...
A primeira Instituição a receber o nosso Projeto, em 2010, foi o Lar das Vovozinhas; instituição filantrópica que abriga aproximadamente 200 senhoras, em estado de vulnerabilidade e debilitação física e mental, muitas vezes sucedido pelo abandono familiar. Para desenvolvermos este projeto, inicialmente convidamos os alunos da escola Antônio Alves Ramos (Patronato); levamos os alunos e seus familiares, interessados em para conhecer a realidade do lar, para uma primeira visita.
No primeiro encontro no Lar, contamos com a participação 20 senhoras, porém, no decorrer do Projeto percebeu-se a dificuldade de locomoção das mesmas e a desmotivação para participarem de atividades lúdicas, uma vez que diziam “estar esperando pela morte”. Necessário se fez, então, repensar nossa proposta; e constatamos de que precisaríamos primeiramente estabelecer relações afetivas, razão pela qual passamos a ir semanalmente ao lar, apenas para ouví-las (ou, então, apenas abraçá-las e dar-lhe atenção e carinho). Na medida em que os encontros foram acontecendo percebemos que éramos recebidas com muita espera. A partir deste momento começamos a construir espaços para contar e ouvir histórias, tanto infantis quanto de vidas.
A segunda instituição na qual desenvolvemos o nosso projeto foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental João Hundertmarck, localizada na zona rural de Santa Maria. Começamos a desenvolver o projeto nesta escola e, para nossa surpresa, a maioria de seus educandos são oriundos da zona urbana de Santa Maria. Para iniciarmos o trabalho, optamos em ouvi-los, conhecendo suas identidades, suas auto-imagens, a partir de uma dinâmica com os seus nomes. As dinâmicas por si só não garantem a participação efetiva das pessoas, mas o ambiente construído de cooperação, de diálogos, de escuta e, principalmente, de amorosidade é que permite aos seres humanos sentirem-se autônomos e com autoria, sujeitos desse momento, levando-os a contarem suas histórias e fazerem a relação texto-contexto. Para isso é preciso nos exercitarmos para aprender a ouvir, a criar, a trabalharmos cooperativamente, criando ambientes de amorosidade, de escuta e de respeito; a capacidade participativa que cada ser humano por natureza possui precisa ser (re)aprendida, e  assim não negarmos a legitimidade do outro. Dentro deste contexto, oportunizamos a cada um ver o mundo, a ler o mundo, a descobrir e redescobrir o mundo e as maneiras (sua e dos outros) de ser gente nesse mundo.
Desde o início do Projeto, idealizamos práticas a partir das histórias infantis que poderiam ser desenvolvidas em todas as três instituições. No entanto, na terceira instituição em que esse Projeto foi desenvolvido, o Recanto da Esperança, foi um pouco diferente. Nos deparamos com a realidade de jovens e adolescentes, em situação de risco; jovens e meninos que lá estão encaminhados pelo Conselho Tutelar. Ao iniciarmos o Projeto neste local oencontramos meninos excluídos da sociedade, desacreditando da possibilidade de aproximação para ajudá-los, pois diziam que “as pessoas que iriam até lá, o faziam somente para julgá-los”. Percebemos uma insegurança ao mentirem sobre suas identidades e suas histórias, e também porque em alguns momentos usavam uma linguagem própria do grupo para que não fossemos entendidos. Percebemos, com isto, que o trabalho a ser desenvolvido naquele ambiente exigiria um pouco mais de nós, no sentido de mais pesquisas, reflexões com o grupo, bem como a busca de novos recursos que pudessem despertar/instigar o interesse daqueles menores adolescentes. Dessa maneira, entendemos estar desenvolvendo um projeto que “[...] além da participação, supõe uma forma de ação planejada de caráter social, educacional, [...] Trata-se de facilitar a busca de soluções aos problemas reais para os quais os procedimentos convencionais têm pouco contribuído” (THIOLLENT, 2002, p. 08).
Através da palavra é possível o ser humano se expressar, expressar seu mundo interior para se comunicar com o mundo exterior; assim, a leitura é uma via para formação da consciência e de uma outra “visão e leitura de mundo”, como dizia Paulo Freire.

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