Durante
o ano de 2007, trabalhando os escritos de Paulo Freire, passou-se a pensar em
alguma atividade que demonstrasse que nós acadêmicos e professor acreditamos
que a educação pode fazer algo para transformar a sociedade e emancipar e
libertar as pessoas que vivem marginalizadas, silenciadas, dominadas e
diminuídas na sua condição e dignidade humana em meio às estruturas excludentes
da sociedade neoliberal capitalista.
Com esse objetivo, um pequeno grupo
de acadêmicos, do Centro de Educação/UFSM, começou a desenvolver um
projeto de reabilitação do espaço da antiga Estação Ferroviária de Santa Maria,
a GARE, incentivando a leitura da palavra e a leitura do mundo. Para tanto,
começamos a desenvolver a Hora do Conto, com as crianças daquelas comunidade e
a organizarmos uma Biblioteca que atendesse as necessidades daquela comunidade.
Inicialmente, conhecíamos aquela comunidade, como uma invasão; no entanto, no
decorrer do projeto, trabalhando e ouvindo as histórias destas crianças,
compreendemos com elas que aqueles locais nos fizeram não eram uma “invasão”, e
sim uma área de “apropriação”.
Outros projetos de pesquisa e
extensão, coordenados pelo professor Celso Henz, que visam colaborar com uma
educação libertadora e com a formação continuada de professores, com seus estudos e diálogos-problematizadores
permanentes, nos remeteram a reflexões e a leituras que nos possibilitaram uma maior aproximação com
a realidade dos meninos e meninas da GARE, sobretudo na perspectiva freireana
de que “a leitura do mundo precede a
leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da
continuidade da leitura daquele” (FREIRE, 2006, p. 11). Desse modo, fomos
percebendo que aquelas crianças, que apresentavam dificuldades na leitura das
palavras, liam o mundo de uma maneira e com uma riqueza que nós não
conhecíamos. Assim começou evidenciar-se que: “[...] tanto no caso do processo educativo quanto no ato político, uma
das questões fundamentais seja a clareza em torno de a favor de quem e do quê,
portanto contra quem e contra quê desenvolvemos a atividade política”
(FREIRE, 2006, pág. 23).
As atividades de Hora do Conto acontecem a
quase um ano na Biblioteca Pública e há três meses na GARE. Partindo dessas
constatações, houve a necessidade de sistematizar os momentos vivenciados,
dessa maneira, o projeto que surge com a possibilidade de despertar o gosto
pela leitura e de atender integralmente às necessidades da infância, passou a
ter o objetivo de possibilitar o desenvolvimento
lúdico, imaginativo e crítico visando estimular a participação como cidadãos,
tornando-se um agente reflexivo de dados, fatos e acontecimentos do mundo,
criando e recriando seu papel na sociedade.
Para a concretização deste objetivo geral foram
traçados alguns objetivos específicos: - incentivar o hábito da leitura e da
escrita possibilitando o contato com os livros; - desenvolver a imaginação e
criatividade; - valorizar a produção dos escritores locais; - proporcionar
atividades diferenciadas para a comunidade; - reconhecer a Biblioteca como
espaço de cultura e também de lazer.
Inicialmente propomos três perspectivas que
norteiam o projeto:
- Desenvolver o hábito da leitura em
comunidades carentes;
- Que leitura de mundo é feita a partir e com
as histórias trabalhadas;
- Mostrar de que maneira as histórias
influenciam na formação do ser cidadão.
Assim,
entende-se que o Curso de Pedagogia, o Centro de Educação e a UFSM podem
tornar-se parceiros importantes para que este projeto Hora do Conto se torne
apenas um “ler” histórias e palavras dos outros autores, mas a partir delas e
com elas desencadear processos dialógico-problematizadores em que meninos e
meninas possam “dizer a sua palavra” enquanto leitura do mundo em que estão
vivendo (ou impedidos de viver) como gente. Ademais, abre-se a possibilidade de
outras acadêmicos da UFSM integrarem o mesmo projeto, dando mais organicidade e
dialeticidade a sua formação inicial de educadoras.
A continuidade deste projeto no ano de 2008,
implica em pôr em prática essas mudanças. Gostaríamos que, antes de ler ou
contar as histórias dos livros, cada um e cada uma pudesse contar a sua própria
história.
Admiro a competência e a dedicação da Daniela pela bela criação deste blog!!!Meus respeitoooos...
ResponderExcluirCom carinho!!!!Elô